5.12.08

"Viver é relacionar-se"

Sinto que somos uma humanidade confusa. Parecemos ter perdido o senso de direção, o propósito da vida e do porque vivemos, e nos embaraçamos em muitas contradições.Cada um, individualmente, quer paz; cada nação, individualmente, não só deseja, mas também precisa de paz; e, mesmo assim, nos preparamos para guerras e nos engajamos em lutas, descuidada e impensadamente.Vemos sociedades ricas em muitos países, um maravilhoso avanço da ciência e da tecnologia entretanto, ainda não aprendemos como desfrutar e utilizar a riqueza para o nosso próprio bem-estar, como usufruí-la sem prejudicar os interesses de outras pessoas. Temos instituições organizadas, denominações religiosas e seitas espiritualistas, porém, ainda não aprendemos, como raça, a comungar com a vida ao nosso redor. Queremos liberdade. Intelectualmente, aspiramos por ela, mas emocionalmente não estamos preparados para suportar a tensão de estar sozinhos que a liberdade requer. Não nos equipamos com a capacidade de uma auto-restrição voluntária que a liberdade requer.Parece-me que, depois de habitar o globo por milhões de anos, nós, como raça, ainda estamos perplexos, embaraçados, em conflito com nós mesmos e uns com os outros. Espero que percebamos a gravidade da situação. A simples verdade é: nós ainda não aprendemos a viver.Eu me pergunto quantos são invadidos por perguntas como: "O que é viver? Como viver? O que é a vida, o movimento da vida fluindo incessantemente em volta e dentro de mim?"Ficamos perplexos, confusos e, então, entramos em depressão, sentimos piedade de nós mesmos, e permitimos a liberação de energias negativas onde quer que vamos.Porém, raramente ficamos sozinhos e nos questionamos: "Por que esta confusão, estas contradições? Será que existe um fim para este jogo estúpido de luta, de exploração e de assassinato de uns pelos outros, aspirando por paz e nos preparando para a guerra? Há um fim para tudo isso? Haverá um fim para essa desordem com a qual nos deparamos no mundo e em nossas próprias vidas?"Quem vai pôr um fim em tudo isso?Estamos esperando por um salvador que vem do Oriente ou do Ocidente, ou que aconteça algum milagre?Eu me pergunto como vocês todos encaram essa questão — se é que ela passa pela mente de vocês.Essas palestras vão para os que sentem a necessidade de se questionarem, de salvarem sua própria sanidade, o equilíbrio interior em suas próprias vidas e de saírem dessa confusão e do estado de perplexidade imediatamente.Parece que não há salvadores nos campos econômico, político ou religioso. Racionalmente, olhando ao redor, não vemos nenhuma chance de que as guerras cheguem a um fim. A despeito das religiões organizadas, individualmente somos infelizes, não estamos em paz com nós mesmos. Se temos tempo disponível ou se chegamos à riqueza, não sabemos como usá-los. Será que nos perguntamos: "Por onde começo? Não há ninguém mais para me ajudar? Ninguém me ajudará sem me explorar, sem exigir de mim a aceitação de uma autoridade?"Então, conservando nossa própria liberdade e a integridade da nossa própria iniciativa, será que podemos encontrar um caminho fora desta situação, fora das circunstâncias desesperadoras da atualidade?Se um tal questionamento pode nascer no coração, então, acho que há alguma esperança para o futuro da raça humana, porque vocês e eu, as assim chamadas pessoas comuns, somos a realidade. Temos de resolver nossos problemas por nós mesmos. Temos de enfrentar os desafios usando nossos próprios recursos.Portanto, dizemos que queremos salvar nossa própria sanidade, que gostaríamos de ver se há alguma semente de violência dentro de nós, se há conflitos e contradições dentro de nós, se pode haver uma maneira de viver completamente diferente.Questionar a validade do que existe e estimular em todo o ser uma vontade de explorar uma forma de vida inteiramente nova é o conteúdo de uma investigação religiosa.Uma investigação religiosa não começa com um ideal de que há um Deus e de que devemos ir e descobri-lo; ou de que há uma alma ou atma, e dizemos que devemos encontrá-la. Uma investigação religiosa começa com os fatos da nossa própria vida, aqui e agora.Espero realmente que, através destas palestras, possamos pôr de lado todo o sentido de mistério sobre a investigação espiritual ou religiosa. Não há nada de misterioso; trata-se de uma ciência da vida.Somos uma parte do mundo, da sociedade. A violência, os conflitos que encontramos à nossa volta também têm suas raízes dentro de nós. Como lidamos com isso?É muito difícil para nós nos inteirarmos seriamente dos fatos da nossa própria vida. Sentimo-nos vítimas das estruturas sociais, econômicas e políticas. Os outros são culpados; a responsabilidade é dos outros.Não percebemos que somos partes do todo, da sociedade, e que contribuímos, pela nossa própria maneira de viver, para a violência, para a agressão e para as injustiças que existem.A ação social começa com a nossa própria vida. Uma investigação religiosa, com a conscientização da situação do mundo, é o começo da ação social direta e penetrante, porque se começa a lidar com o ser humano, um espécime da humanidade coletiva. Vimala Takar.

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